Crocodilos e Avestruzes

Deficiência, Incapacidade e Desvantagem
A
reflexão que faço após ter conhecimento das leituras e dos vídeos, lembrando
também da aula que nos foi dada e dos comentários feitos pelos colegas, estou a
descobrir que o que penso devo executar. Digo isso, pois em um dia qualquer que
eu e minha turma estávamos na pracinha, de longe eu vi um menino do 4º ano que
tem deficiência intelectual e física sentado no chão, muito longe de sua turma,
e isso não me saiu da cabeça. Eu deveria ter saído de onde eu estava e ter e
ido em busca da professora do aluno, sabe-se lá onde estava, nem eu a vi, nem
os alunos. Mas lembrei que não poderia me afastar de meus alunos para resolver
a questão. Já interferi algumas vezes em situações que foram nada confortáveis,
mas desta vez iria apenas observar. Foi o que fiz, cuidei de minha turma, mas
de olho no menino lá sentado... Estava excluído, sendo o crocodilo (agora sei a
definição), logo em seguida perguntei através da cerca se ele ficaria ali, pois
ele podia andar, mas desajeitado, não usava mais a cadeira de rodas que é outra
história... Em seguida veio um colega e o levou para junto da turma. Fiquei
aliviada. Devem ter me visto ( me metendo).
O
texto crocodilos e avestruzes me vi em uma situação semelhante no qual citada
por Gilberto Velho (1989) no qual patologisação do desvio (moeda corrente em
nossa cultura) sendo uma grande armadilha que aprisiona aqueles que se colocam
ou são colocados no desvio, que por suas características, quer por se
comportar. Digo isso em virtude de um de
meus alunos que tem dificuldade na fala é acompanhado pelo CRAS e que este
órgão pediu que eu enviasse um parecer descritivo para ele não perder o
atendimento no posto. Escrevi que o menino realiza continhas simples de adição
e subtração, sem dificuldade, reconhecia e identificava as letras do alfabeto
fora da seqüência, conhecia as vogais. Era bastante agitado, mas ele entende os
diálogos que temos, não possui deficiência mental e as pessoas o tratam como se
a tivesse. Ele tem problema na fala. Deve ter uma surdez leve, pois quando o
chamo ele me ouve.
Outro
fato que aconteceu comigo, até me identifico como o avestruz, pois ao ficar sem
ação, vendo agora o meu próprio preconceito que tive no inicio do ano com um
rapaz com uma aparência feia, vi que me encaixei no mecanismo de defesa, o
avestruz. Com o tempo, fui percebendo que aquele rapaz existe e eu sendo uma
professora não poderia admitir que este preconceito tomasse parte de minha
vida. Eu devia lutar contra este sentimento tão ruim. Foi então em uma
apresentação de sua turma que meus olhos e ouvidos ouviram e viram um ser tão
magnífico e existe. Aquele aluno tão feio ficou tão bonito, que minha
existência se despiu da ignorância e pude vê-lo. A cada semestre, me surpreendo com tantas
coisas que não sei e aprendo.
Tratar
com respeito a todos, sem ser avestruz, se esconder ou vestir uma roupagem,
tratar com igualdade, apresentar seus direitos e assim propagar um ambiente
acolhedor e de paz, enxergar as pessoas como elas são.